segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Luar prateado parte I

Sentado, com os cotovelos apoiados em sua mesa o oficial de pele clara e cabelos loiros grandes o suficiente para formar uma franja inconcebível pelo manual fita o vazio com seus expressivos olhos azuis-esverdados...

À sua frente, também sentado, seu adjunto o olhava como se esperasse uma resposta.

-Meu líder... perguntei se o senhor já desejou outra vida, ser um bem sucedido homem de família, se preocupando apenas com a família, a carreira e o fim da vida...

-Já... E faz muito tempo... Se faz sentido em falar nele...

***
É de onde eu venho, eu era oficial lá também, não tão distinto quanto sou aqui, mas era e era bem feliz com isso. Eu era de cavalaria, à cavalo ainda! Existiam alguns blindados movidos à vapor e eletricidade, mas eram raridade... Nosso exército não era tão poderoso, mas sem dúvida era bravo. O fato é que havíamos lutado uma grande guerra e perdemos. O inimigo impôs uma série de condições humilhantes e uma delas acabou com nossas forças armadas e logo eu me vi sem emprego. 

Mas não ache que eu estava preocupado ou triste... bom, de início triste, mas não preocupado. Tinha tudo para começar uma nova vida. Eu tinha juntado uma grana e ia abrir um comercinho em uma vila pouco conhecida e muito pacata, bem no interior. Cheguei lá com meu cavalo Tärhil , minha espada, um fuzil e dinheiro o suficiente para tocar minha nova vida.

Por incrível que pareça eu fui bem recebido e acolhido pelos habitantes locais, a vila basicamente girava em torno da nobreza agrária que lá residia, havia um escola para moças, mas tinha poucas alunas, um templo, um prostíbulo, algum comércio e só. Eu logo tratei de alugar um local para abrir minha venda e oficina de engenhocas, bem perto da praça central e uma quarto, num casarão que ficava na estrada que dava acesso ao povoado.

Esse casarão na verdade era do dono do "outro" comércio do local. Ele vendia tudo o que era preciso por lá, condimentos, tecidos, brinquedos... mas não era meu concorrente, ele não vendia engenhocas e até ficou feliz pela minha chegada... sabe na cidade tínhamos os nobres, o sacerdote e empregados, tanto das casas quanto da escola, alguns funcionários públicos também. No meio dessa hierarquia haviam os comerciantes e como só tinha ele fixo lá ele meio que se sentia "sozinho".

Sozinho em sua classe social, porque sozinho em si ele não era, ah... ele tinha uma bela família e eu, endurecido por tantas batalhas, nem sonhava mais ter. A esposa dele era atenciosa, maternal e a filha, Meredy era muito linda! Pele rosada e macia, seios grandes e firmes, longos cabelos negros e brilhantes, olhos cor de mel, um sorriso lindo, um jeito delicado e tímido... Ela não frequentava a escola de moças, havia sido educada desde pequena para ser uma boa esposa e ela dependeria de um marido, para defende-la e para ama-la. Para mim isso era perfeito.

Eu, claro, não demorei à mostrar meu valor, numa noite, ainda na minha primeira semana lá, acordei com o grito de Meredy! Tive que arrombar minha porta (uma das condições para minha estadia lá era que eu dormisse com a porta trancada por fora, para que a honra da garota não pudesse ser questionada) e dei de cara com ela, de camisola, segurando uma vela encarando com medo algo perto das escadas... logo em seguida surgiram seus pais, primeiro com cara de reprovação, haha, aquele pessoal tinha uma capacidade para pensar besteira muito rápido, mas depois mudaram o semblante para horror e medo. Então eu vi a criatura...

Estava perto das escadas, de quatro, pele branca, veias aparentes, garras, presas, sem olhos... bolas, você já viu muitos destes, mas aquela, aquela parece que foi a primeira vez que eu vi um... Eu teria paralisado de medo se não sentisse que a coisa estava de olho em Meredy, de olho hehehe, modo de dizer, mas ele estava com certeza querendo a garota, aquela língua longa e negra saltava para fora daquela bocarra e sibilava no ar...

Tomei coragem e avancei de mãos nuas mesmo! Sabe, naquelas condições era loucura, não sei se eu ainda estava deprimido pela derrota na guerra, ou se estava louco de amor, mas fui com uma ferocidade que o bicho até saiu correndo! Sai da casa e não vi sinal da criatura, bem... isso nos  cinco primeiros segundos, porque logo senti as garras e o peso dela nas minhas costas! Cai rolando e ela veio para cima de mim, era muito pesada e eu achei que seria o meu fim! No entanto ouvi um rosando e depois só vi uma coisa branco-prateada passando por cima de mim e derrubando aquela coisa... Demorei um pouco para perceber que era um grande lobo, um grande e belo lobo que me salvara a vida e estava engalfinhado em uma luta feroz com aquele demônio...

Não demorou muito os dois desatracaram, a criatura fugiu, ferida, para um bosque e o lobo saiu mancando, seguindo a estrada. Os meus anfitriões saíra da casa, ainda assustados e Meredy me abraçou com força, chorando, soluçando...

Depois disso não tivemos mais problemas. Passou um ano e meu negócio prosperou, comecei a namorar e fiquei noivo de Meredy e por isso tive que me mudar para uma casa no centro, se não ela ficaria mal falada... Entenda, eram outros costumes. Eu estava feliz, já não ligava para a derrota do nosso país e pelo fim da minha carreira militar. Muito de meus amigos vagavam trabalhando de capangas, mercenários, bandidos, mas eu não, eu ia construir uma família e viver bem, com conforto.

Foi então que eu o vi, sentado num bar (esqueci de falar que a cidade tinha um bar). Eu o poderia reconhecer em qualquer canto, com seus curtos cabelos escuros, pele bronzeada, castigada pelo sol, barba sempre feita, cicatrizes no rosto e no braço, olhos verdes... meu ex-comandante de esquadrão, um amigo a quem eu queria muito bem, mas que ao mesmo tempo eu queria longe, sabia que ele não deixaria eu levar aquela vida adiante...  


2 comentários:

  1. Muito bom o conto, com grande pitada de humor Empra! Por isso adoro conversar com voce sobre nossos projetos, de todo modo, me diverti muito ainda mais com as "piadinhas" que surgiam aqui e ali. Me pareceu muito mais algo estilo seculo 17, 18 por certas coisas, mas mantendo o esperado!
    Não posso comparar muito nossos trabalhos pois estou em outra area, mas te garanto, quando aparecer no Faustão vou mandar lerem seu livro! Maldito thirian contrabandista!

    PS: Próxima vez me diga se o que sinto em minhas costas é aquela mina que voce perdeu semana passada.

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    1. Nah... impossível... eu perdi a mina perto da casa da... oh! wait! Seu neko desgraçado! Já falei para não chegar perto da residência de Kim Adko!

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