A minha primeira namorada foi tudo aquilo eu precisava como companheira, tínhamos os mesmos interesses, ela tinha uma inteligência muito acima do normal, muito carinhosa e apegada, mas principalmente foi alguém que me ajudou a superar um grande problema com identidade. Eu comecei a namorar bem tarde, com 25 anos e o fato de ter tomado um pé na bunda da AMAN era algo que eu não tinha me superado. Eu me via como um soldado sem exército e mesmo tendo entrado para uma faculdade, meus planos eram juntar grana e ir me alistar em algum lugar que aceitassem estrangeiros. Foi ela que me mudou de um eu-soldado para um eu-cientista.
E aí eu venho falar aqui porque eu preciso falar isso "em público", mas ao mesmo tempo tenho vergonha e eu sei que a visitação dos meus blogs são bem baixas. A questão é que tanto eu, quanto a Liebe tínhamos temperamento forte e por isso nós fizemos um acordo que no dia que se decidíssemos terminar, ficaríamos juntos por mais 3 semanas depois da declaração de término, pois assim daria tempo de acalmar os ânimos e recuar de uma decisão precipitada.
E chegou o tempo que eu fui para a Alemanha e em um outubro, se não me engano foi num dia 17, uma segunda e eu terminei com ela. Eu estava bem frustrado e com raiva na hora e ela perguntou das três semanas e eu disse que se ela quiséssemos, teríamos as três semanas, mas que isso não mudaria minha posição. Então, resignada ela disse que abriria mão das mesmas. Mal sabe ela que, antes da nossa conversa via skype terminar eu já estava sentindo o arrependimento, eu cheguei a falar que eu sabia que eu ia me arrepender mais disso do que ela, mas o orgulho me impediu de voltar atrás.
E hoje já fazem seis anos que eu não chamo mais ela de Liebe e quase todo dia eu lembro dela e isso me entristece. Eu continuei conversando com ela, com frequência depois do término, mas com o tempo ela foi se distanciando. Eu cheguei a ter outra namorada nesse meio tempo e ela até tinha muito haver com a Liebe, mas as coisas acabaram não indo para frente (não por causa de ficar pensando na Liebe, meu senso "moral" conseguiu, ao menos separar as coisas e enquanto eu estava em um relacionamento eu consegui canalizar os pensamentos nela em coisas do tipo: como ela está, ela está bem? Mas terminou por visões de futuro diferentes, eu tenho noção que conseguir um emprego, na minha área, na minha região é difícil, eu gostaria de ter filhos, eu gostaria de morar no exterior pelo menos por um tempo e a minha segunda namorada não queria sair de perto da cidade dela, nem casar e nem ter filhos e foi ela que terminou). Depois do término com a segunda, eu não consegui me envolver com mais nenhuma outra garota, quando a conversa vai andando e se tornando mais íntima eu simplesmente não consigo, eu fico triste, eu perco o interesse e acabo me afastando. (Isso acontecia antes da minha segunda namorada também, acho que o diferencial dela para as outras é que ela foi bem insistente e agiu de maneira ativa para me trazer para perto dela).
E antes eu associava isso pelo fato de eu estar em uma fase destrutiva. Isso é desde que eu fui para a Alemanha, eu voltei de lá sem horizonte, sem planos e sem foco. Eu tinha vários planos rasos, mas eram apenas fachada. Levei o resto do meu curso de engenharia com a barriga e minha chama só foi começar a reacender no meu TCC, que eu fiz com bastante carinho e dedicação, ainda que sem a menor técnica. Acontece que hoje, eu definitivamente não estou mais em uma fase destrutiva, eu estou igual eu estava no meu ultimo pico produtivo (que foi no meio do meu namoro com a Liebe), eu estou fazendo uma renca de cursos online, estou trabalhando com afinco na minha pesquisa, até já publiquei coisa dela, já tenho diversas propostas de projetos e estou conseguindo guardar dinheiro da minha bolsa de pesquisa. Eu tenho uma visão de futuro para mim, mas ela parece fria igual eu tinha antes, mas agora essa visão parece fria, silenciosa.
Não digo "triste", porque é um futuro onde eu estou construindo algo, onde eu estou produzindo o que eu gosto de produzir, onde eu estou me tornando cada vez melhor como pessoa, como acadêmico e como cristão, mas falta o calor dela. Não é como se me faltasse algo que me fosse necessário para viver, ou sentir sentido na vida, mas é como se faltasse algo que fosse transformar aquele belo, bem feito vaso de porcelana branco com detalhes em ouro naquele vaso de argila que você fez em uma aula de artesanato e que você sente todo um orgulho, ou mesmo aquele vaso torto de cores vibrantes escrito um "mamai" todo errado que um filho entrega para uma mãe. Ou melhor, é a diferença entre uma saborosa coxinha e uma saborosa coxinha com catchup. Não falta nada para existir, o que falta é um "algo mais" e esse algo mais dá todo um sentido a essa futuro.
E eu ainda tenho sim esperança de que isso possa mudar. Seja o destino nos colocando frente à frente de novo e começarmos uma nova relação, seja aparecendo alguém que consiga me tirar desse "encanto". Mas o ponto principal desse texto não é falar de como eu vejo esse meu futuro e sim de como que a arrogância, o rancor, a raiva e o egocentrismo arruinaram o que talvez tivesse sido o melhor relacionamento amoroso que eu possa ter tido. Eu podia ter evitado disso e eu sabia que podia ter evitado, mas eu não evitei, deixei essas coisas me consumirem e eu tento não me sentir mal com isso, afinal eu não tinha a experiência que eu tenho hoje, nem maturidade para relacionamentos, mas tem hora que eu não consigo, eu lembro dela chorando no nosso término, eu lembro dos eventos angustiantes e eu lembro da história dela que é uma garota/mulher que passou por poucas e boas e não merecia aquilo, nem me merecia.
Se alguém eventualmente ler isso, espero que sirva de algo, seja como um alerta para tomar cuidado com os sentimentos listados acima, seja para desfazer uma decisão precipitada enquanto há tempo. Para o meu caso, no sentido literal, só um milagre pode resolver.
quinta-feira, 29 de outubro de 2020
Um desabafo sobre arrogância, rancor, raiva e egocentrismo e saudades da Liebe
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