sábado, 21 de junho de 2014

Transcendence, por que vale a pena ver.

Nessa sexta eu assisti, com a minha liebe, no cinema o filme Transcendence de Wally Pfister com roteiro de Jack Plagen. Não sou cinéfilo para saber quem são esses sujeitos e que trabalhos já fizeram, mas acho que merecem um parabéns pela forma como surpreenderam no filme.



E o universo conspira:

Tecnicamente não era para termos ido ao cinema. Eu ainda não vi a cor do dinheiro da minha bolsa (PET) e o que sobrou do mês passado está contado. No entanto tive a felicidade de achar 50 dilmas na gaveta onde eu guardo microcontroladores. Fiz uma revisão básica para ver se eu tinha algo para pagar, não tinha e... fiquei imensamente feliz com essa grana. Só. Não tinha como eu planejar ir ao cinema, por que, ao que me constava eu deveria ir ao almoço de noivado de um amigo meu. Assim, achei a grana, fiquei feliz, me arrumei, busquei minha liebe e fui para a casa desse meu amigo, apenas para descobrir que preciso de óculos novos. Eu podia jurar que havia lido "Junho" no convite quando na verdade estava escrito "Julho".

Visto que eu fiz minha liebe se arrumar toda e ir parar do outro lado da cidade... visto que eu já estava fora de casa e com 50 dinheiros a mais na carteira, resolvi levar minha bela companheira ao cinema. Portanto chegamos lá de improviso, sem sequer saber o que estava em cartaz.

Não é a primeira vez que vamos para lá totalmente desinformados e nesses casos a gente quase sempre opta por assistir uma animação. E eu cheguei de olho em "Como treinar seu dragão 2" enquanto ela olhou para "Malévola" (que não é animação). Íamos pela opção dela quando eu falei para olharmos as outras opções: "A culpa é das estrelas", definitivamente não é nosso tipo de filme, um outro que eu esqueci qual é e finalmente Transcendence. 

A presença de Jhonny Depp e Morgan Freeman no poster chamaram a nossa atenção. Nós em geral não costumamos levar em conta que artistas participam do filme, por que não entendemos muito disso de nível de atuação e etc, mas sabemos o suficiente para saber quais artistas são bem famosos, portanto caros e em geral filmes bons. Essa correlação pode não ser muito explícita, mas em geral funcional, até por que a gente não é lá muito fã de filme "cult" e prefere uma boa produção comercial mesmo.

O problema é que não tínhamos nenhuma descrição do que se tratava o filme, não tinha nenhum panfleto com as sinopses no cinema e não nos demos ao luxo de perguntar a alguém. Bastou que ela resolvesse arriscar (e o motivo foi que alguma coisa no poster lembrou a ela de Full Metal Alchemist) para que eu topasse e então fomos lá comprar nossos ingressos.

Os trailers e a promessa de um filme de ação:

Uma vez que desconhecíamos o conteúdo do filme, tentamos deduzir pelo teor dos trailers. Todos eram de filmes de ação, o que nos levou, erroneamente a achar que teríamos um filme de tal gênero. O que não seria necessariamente bom para ela, afinal o único que gosta de explosões sem conteúdo, sou eu. Bastou no entanto ela ver, no início do filme que os personagens principais da trama eram cientistas, para que ela respirasse aliviada. Bastou também que a história avançasse para que eu ficasse indignado, achando que estávamos caindo em um clichê piegas...

Mas não foi bem assim... (SPOILER):

Bom, vamos ao enredo do filme. Como está escrito no título dessa subseção, temos spoilers aqui, portanto leia por sua conta e risco.

No filme temos Jhonny Depp como o Dr Will Caster, ele é um cientista que trabalha com inteligência artificial, criador do supercomputador PINN. Após uma palestra para levantar fundos para a empresa dele e de sua esposa, Evelyn Caster (Rebecca Hall), ele sofre um atentado sendo atingido com uma bala envenenada com material radioativo. Ele sobrevive ao atentado, mas graças ao envenenamento ele só tem 4 a 5 meses de expectativa de vida.




O atentado foi orquestrado pela organização extremista RIFT, que acha que os cientistas estão passando dos limites com a IA e que isso ameaça a humanidade. Eles executaram diversos atentados contra outros cientistas e centro de pesquisas, matando várias pessoas.





Os arquivos que sobraram de um desses centros de pesquisa destruídos são mandados para os Caster, neles,há o relatório sobre um experimento no qual o cientista responsável resolveu o problema de autoconsciência das IAs fazendo upload da mente de um macaco. Vendo o fim da vida de seu marido e em posse dessa informação Evelyn convence Will e um amigo do casal, Max, a fazerem o upload da mente dele para uma máquina. Will passa suas últimas semanas com eletrodos em sua cabeça, fazendo uma série de tarefas para permitir que a máquina consiga emula-lo por completo.





Will morre e é cremado. Infelizmente, por terem recursos limitados Max e Evelyn não conseguem de primeira fazer com que a máquina emule ele. No entanto, quando estão prestes a desistir a máquina da sinais de consciência, o que assusta Max, fazendo este pedir para Evelyn desligar a mesma até que possam entender por completo o que está havendo. Evelyn se irrita, expulsa Max e etc, tal qual uma cena emotiva qualquer, de uma pessoa emocionalmente cega lidando com outra tentando lhe trazer a razão.


Evelyn começa a tentar fazer upload do marido para a internet, fazendo com que o mesmo se instale em cada dispositivo conectado à nuvem, enquanto Max vai beber e é raptado pela RIFT, que já sabe o que Evelyn pretende e por isso se vêem na obrigação de impedir antes que seja tarde demais. De praxe, quando chegam no local onde a máquina Will estava, esta já havia sido "uploadada"...


Nesse ponto eu já estava me remoendo de raiva, achando que estava vendo um filme tecnofóbico, que Will iria se tornar uma superconsciência dominadora e megalomaníaca e que o grupo terrorista se tornariam os mocinhos da situação lutando contra a ditadura da máquina.


Pois bem, Will começa suas ações na rede tentando proteger Evelyn. Ele transfere fundos para a empresa dela, denuncia para a polícia a localização da maior parte dos integrantes da RIFT, obrigando seus principais membros a se isolarem no meio do mato e guia Evelyn para uma cidadezinha abandonada, orientando ela a construir um poderoso complexo super-tecnológico onde ele é capaz de criar verdadeiros milagres graças a nanotecnologia.


Passam se alguns anos, a RIFT começa uma panfletagem contra o complexo e um dos funcionários do mesmo é assalto e espancado. Vendo uma possibilidade, Will recupera e aprimora o sujeito usando nanotecnologia. Ele aproveita e "conecta" o mesmo à ele para poder "tocar" fisicamente Evelyn (obviamente a mulher recebe mal essa novidade). Will começa a realizar uma campanha, chamando todos aqueles que tem sérios problemas de saúde à irem ao complexo, onde lá, ele cura e conecta todos à ele. Uma vez em "comunhão" com a consciência maior, as pessoas passam a agir de forma síncrona e uma vez que passam a ter acesso ao conhecimento compartilhado pela coletividade, transcendem a sua própria humanidade.


Então eu cheguei a conclusão que:


Nesse meio tempo, a chefe da RIFT explica para o Max que trabalhou de estagiária em um desses lab de IA, viu o chipanzé/macaco/raio que o parta sendo uploadado e chegou a conclusão que tínhamos chegado longe demais. Eu não me atentei a forma como isso foi colocado no filme, porque estava achando que seria uma porcaria tecnofóbica e que aquilo estava sendo apresentado como uma justificativa válida. Eu achei um absurdo uma pessoa, uma única pessoa ter a audácia de achar que tem uma capacidade de julgamento tão superior que possa achar que pode decidir até onde a humanidade pode e até onde ela não pode ir.



A lider da RIFT


Também chega um ponto, que outro cientista, interpretado por Freeman, chega, junto com um agente do FBI ao complexo, são recebidos por Evelyn e "Will", Will mostra tudo o que está sendo feito e inclusive fala da consciência coletiva dos curados, ou seja, não esconde nada dos visitantes e ambos saem do complexo, chegando a conclusão que o mesmo representa um perigo e que Will deve ser desligado. É um momento interessante. Will não havia executado qualquer ato hostil, o máximo que poderia ser questionado é a tal da mente coletiva, mas mesmo assim chegaram a conclusão de que ele não deveria mais existir. E o mais interessante é que, pela figura do Freeman, pela forma como o dialogo foi conduzido, não parece, em momento nenhum, que foi uma decisão arrogante, preconceituosa e intolerante e sim uma decisão sábia, religiosamente sábia, feita por alguém que possui a paz interior e consegue vislumbrar um risco que um mortal normal, preocupado apenas com o bem imediato não consegue perceber.


Um ponto interessante é quando o agente do FBI pergunta a Freeman, se aquilo que eles viram era mesmo o Will e Freeman responde que "aquilo" evoluiu tanto, teve acesso a tanto conhecimento, que agora não faz mais diferença. E fala como se isso fosse necessariamente ruim.


A partir de então começa uma corrida para a destruição de Will. Max a essa altura já foi convencido pela RIFT, ele contacta Tagger (o cientista interpretado pelo Freeman) e junto com o governo começam um plano para introduzir um vírus na consciência de Will, esse vírus porém vai acabar com qualquer coisa com a qual Will esteja conectado, ou seja, vai ser o fim da civilização como a conhecemos, centrais de energia, bancos de dados de hospitais e bancos, bolsa de valores, comunicações, tudo irá acabar.


Para introduzir o vírus eles precisam capturar um indivíduo ligado ao Will e para isso performam um ataque ao centro tecnológico. Em nenhum momento, durante o ataque Will reage com violência, no entanto isso pode passar despercebido no meio da ação no filme. Ele no fim envia dois de seus "homens" em perseguição aos agressores, agora em fuga, mas não mata nenhum. Um de seus homens porém é pego em uma armadilha e colocado em uma gaiola de Faraday, tendo sua conexão bloqueada.


Evelyn a essa altura está muito assustada e fala que Will tem que parar (de fazer o que, ela não fala) Will diz que eles vão ser atacados novamente e ela pergunta se ele planeja ataca-los, ele responde que não, que planeja transcende-los. Ele começa então a expelir nanopartículas na atmosfera e essas começam a contaminar rios e lagos.


Evelyn foge, Will não tenta impedir, apenas conversar com ela.(Pode ser que tenha tentado impedir, eu sai durante um trecho, para ir ao banheiro) Também não há nada que indique nenhuma pretensão por parte dele de cativa-la a força ou de traze-la de volta a força. A única coisa que é demonstrada no filme é que ele deseja fazer o upload dela.


Num hotel, ela é levada (a força) para o QG da RIFT que agora está atuando em cooperação com o governo. Ela fica sabendo que o perseguidor deles foi capturado e acabou morrendo. A líderda RIFT diz que "devolveram a humanidade" ao sujeito. Evelyn fica sabendo que Will está contaminando reservatórios de água com as nanopartículas e que se "não fizerem nada" logo "todos estarão a serviço da máquina" ela então se propõe a ajudar, com um auto-sacrifício. Ela vai receber o vírus e se oferecer para ser uploadada pelo Will, ativando assim o vírus nele e acabando com sua existência. Isso é claro vai destruir ela também e nesse ponto é a úncia coisa que importa para os presentes, se é justo que ela morra, ou não. Bilhões de vidas que serão ceifadas no apocalipse que vai seguir ao fim brusco da era digital são sequer considerados.


Evelyn segue com o vírus para o complexo, o exército prepara canhões e morteiros nos arredores, para caso qualquer coisa dê errado. No complexo, Will conseguiu fazer uma réplica de seu corpo e recebe

Evelyn, no entanto ele não a deixa entrar, ele percebe que ela está com medo dele, ele desconfia que há algo errado.

A tensão sobe e Max, junto com Tagger e com o agente Buchanner do FBI observam de longe. Eles questionam, Will não está a deixando entrar e Max diz "é claro, a máquina não é capaz de amar". Alguém então resolve iniciar o ataque ao complexo, Tagger aprova dizendo que o perigo à Evelyn pode forçar Will a fazer o upload dela, Max é contra, mas vendo que é voto vencido corre para um carro, junto com Bree (a tal líder da RIFT), e vão em direção ao complexo. Will começa um contra-ataque "comandando" aqueles que estão conectados a ele, de forma que os mesmos começam a montar uma barricada na cidade, explodem alguns carros sem pessoas e começam a cercar o prédio onde está o grupo de comando (Tagger e Buchanner). Outro contra-ataque é realizado por uma linha de nanites, que começa a dissolver os morteiros, canhões e carros utilizados pelos agressores. Os nanites formam cordas também que vão imobilizando os soldados hostis.


No meio dessa confusão Evelyn é atingida por estilhaços e Will leva ela para o complexo. Não demora muito e Will praticamente ganha a batalha. Ele imobiliza todos os soldados e um de seus homens chega ao prédio de comando. Por meio dele ele fala para Tagger não se preocupar, ninguém será ferido. Tagger observa que não tem ninguém sendo morto, ninguém sendo "conectado a força", o máximo que existe é alguns soldados imobilizados.


O carro de Max capota e Bree vê que a linha de nanites se aproximam deles. Ela saca uma pistola e... aponta para a cabeça de Max. Sabendo que Will está assistindo, ela ameaça: "Faça o upload do vírus, faça o upload ou eu mato ele!" Will tenta explicar, por meio de um de seus homens: "Max! Eu posso salvar Evelyn, ou posso fazer o upload do vírus, mas não consigo fazer ambos, não tenho energia para isso!" Evelyn então fala "Will, não podemos deixar Max morrer por um erro nosso". Will, que não obedece a lei zero da robótica, faz então o upload do vírus (o que demonstra que ele sabia o tempo todo que Evelyn estava infectada).


A virada do jogo:


E nesse momento, só após a batalha final é que as coisas ficam claras.Durante o upload do vírus, Evelyn percebe que, por mais que aquela consciência tenha evoluído, ela ainda era essencialmente Will. Que não havia qualquer propósito mesquinho na máquina. Nada de dominação mental, mas sim o fim da agressão ao meio ambiente, uma coexistência mais harmônica com nosso globo... Ambos "morrem". Max chega ao complexo e encontra Will abraçado com Evelyn em seus momentos finais e vê que "máquinas podem amar".


Em suma, apenas por ser uma máquina com consciência e poder muito acima do que a mente humana é capaz de entender, apenas por não conseguir compreender aquilo que estava acontecendo, apenas por ser diferente, os "heróis" do filme condenaram nossa espécie à um apocalipse pós tecnológico, destruíram várias pessoas e uma máquina inocente, abriram mão de todo o progresso e benefícios que aquela entidade estava oferecendo. Apenas por não ser humano, Will foi classificado como ameaça e foi condenado à destruição ao preço de qualquer consequência.


Uma observação interessante:


Ao sairmos do filme, eu pelo menos pude observar a reação da maioria das pessoas. Muita gente ali saiu achando o filme ruim e principalmente, muita gente ali saiu achando que Will era o vilão da história. É claro que tinha que ser Will o vilão, ele era uma máquina, o problema é que ele estava "mal caracterizado" (ouvi isso), outro reclamou que a "crítica à sociedade tecnológica não foi bem feita", como se o objetivo do filme fosse esse.


O filme na verdade apontou um preconceito comum na sociedade atual, o preconceito científico, o preconceito tecnológico, o medo do desconhecido (esse é antigo). Apesar da ciência ter sido a responsável por uma revolução na qualidade de vida do ser humano, de quebrar a maioria dos tabus e de ser a maior promotora da igualdade, a maioria das pessoas há vê como um perigo, como uma ameaça e isso é tão arraigado em nossas mentes que se um filme não for explícito, tendo o esteriótipo do "cientista pacifista, não-materialista, atrapalhado e perdedor", ou do "robô bobinho infantiloide" é bem capaz das pessoas não conseguirem reconhecer os verdadeiros vilões da história.


AQUI ACABA O SPOILER, EU ACHO:


O filme também trata dos "salvadores do mundo", pessoas que se acham iluminadas o suficiente para dizer onde a humanidade pode ir, onde não pode e matam milhares de pessoas para exatamente salvarem as... pessoas.


Apesar da crítica negativa, eu não me arrependo de ter assistido e recomendo ele, vale cada centavo gasto no ingresso do cinema.




2 comentários:

  1. Ele foi muito boa história. Eu gostei, havia muitos elementos que pareciam muito atraente para mim, a sequência de ideias foi bom, mas alguma coisa aconteceu durante esse filme que não se conformava Trascender; no entanto, é um muito interessante para quem gosta de filme de ficção científica, o colapso da humanidade e do governo conspirações. Ele tem seus contras, mas é definitivamente interessante perguntar-nos mesmo com filmes, dilemas éticos que existem na ciência e desenvolvimento. Nós dois estamos dispostos a sacrificar a nossa ética e morais, a fim de salvar vidas; um debate que queima quando se trata de células, nanotecnologia e ciência médica-tronco.

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    1. Desculpe a demora em responder. Primeiramente, obrigado por comentar! Percebo que algumas peculiaridades no seu texto! Se não for intrusivo, de onde você é? Eu não havia observado esse ponto, o dilema entre a ética e a solução prática final (salvar vidas, melhorar o nível de vida das pessoas)! É fascinante porque isso está, de certa forma, relacionado com o complexo de Frankenstein e no nosso receio de aceitar mudanças que prometem melhorias futuras, mas batem de frente com nossos conceitos mais conservadores!

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